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Luto no Feminino: Como a Mulher Sente, Vive e Expressa a Perda

Por: Valquíria Gomes

O luto é uma experiência universal, mas a forma como ele é sentido, vivido e expresso pode variar profundamente entre culturas, idades, contextos sociais — e também entre os gêneros. No caso das mulheres, o luto frequentemente carrega nuances particulares, marcadas por um entrelaçamento de aspectos biológicos, sociais, emocionais e espirituais.

  

📝 Espaço para reflexão:

 

1. A Mulher e a Dor da Perda: Um Sentir Profundo

A psicologia reconhece que as mulheres, de modo geral, tendem a experienciar o luto de forma mais intensa e verbalizada. Isso não significa necessariamente mais sofrimento, mas um modo diferente de processar. A mulher tem, cultural e biologicamente, uma maior abertura para sentir e expressar emoções, sendo encorajada desde cedo a falar sobre seus sentimentos, o que pode influenciar na forma como ela lida com a perda.

Segundo a psicóloga Elisabeth Kübler-Ross, em seu livro clássico "Sobre a Morte e o Morrer", o luto envolve cinco estágios: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. As mulheres geralmente percorrem esses estágios com maior exposição emocional, sendo mais propensas a buscar apoio em redes sociais e espirituais.

 

 

📝 Como me identifico com essa etapa do luto?

Sempre demonstrei minhas emoções, mas, após o processo do luto, mentalizei que demonstrá-las me tornava frágil e vulnerável. No aspecto biológico, sentimentos reprimidos são muito perigosos. Por conta disso, desenvolvi uma alimentação compulsiva. Não saber como expressar a dor fez com que eu buscasse na comida uma tentativa de preencher um vazio que não podia ser saciado dessa forma.

 

2. O Papel Social da Mulher no Luto

Além de seu luto pessoal, a mulher muitas vezes assume o papel de cuidadora do luto alheio. Mães, esposas, filhas e irmãs tendem a acolher a dor dos outros enquanto vivem a sua própria. Isso pode levar a um luto silenciado ou adiado, onde ela se sente obrigada a ser forte pelos outros, mesmo que por dentro esteja profundamente ferida.

O livro "O Ano do Pensamento Mágico", de Joan Didion, oferece um testemunho comovente de uma mulher lidando com a morte do marido. Ela escreve:

“A vida muda num instante. Você senta para jantar e a vida que você conhecia acaba. A questão da autocompaixão é a mais difícil.”

 

📝 Que papéis   assumi no meu processo de luto?

A mente nos prega partidas; acabamos tirando conclusões e assumindo papéis que não nos foram solicitados, perdendo a identidade.

No aspecto social, a pressão para "superar a dor" e "fingir que está tudo bem" me fez assumir o papel de uma criança responsável, tendo de engolir o choro e perdendo etapas importantes da infância. Além disso, tive que lidar com o bullying de outras crianças que faziam comentários desagradáveis sobre eu não ter mais um pai em casa. Esse julgamento social partia não só das crianças, mas também dos adultos. Fui obrigada a enfrentar a iniciação da vida adulta ao perder o último pilar de casa, minha mãe, e ter que dar conta de tudo para ser forte pelos mais novos que ficaram.

 

3. A Mulher e a Expressão do Luto

Culturalmente, as mulheres têm mais liberdade para chorar, falar, lembrar, guardar objetos, escrever diários ou cartas aos que partiram, e participar de rituais religiosos. Essas expressões são formas saudáveis de elaborar a perda. Muitas encontram consolo em grupos de apoio, na oração ou em práticas artísticas como o bordado, a música ou a escrita.

A psicóloga Maria Helena Pereira Franco, referência brasileira em tanatologia, destaca que:

“A expressão do luto é essencial para que ele se transforme, e não apenas permaneça como uma ferida oculta.”

 

📝 Que formas tenho usado para expressar o luto?

No aspeto emocional, infelizmente, na maior parte dos casos, nós, mulheres, somos destruídas emocionalmente pela forma como somos tratadas na altura do infortúnio por familiares e até amigos com os quais sempre achamos que podíamos contar. Muitas mulheres se tornam carentes, depressivas, ou até mesmo bloqueiam as emoções e se tornam frias a ponto de não sentir nenhuma emoção, acabando por não serem capazes de manter relacionamentos saudáveis.

Aconteceu que eu fui silenciando a dor que crescia todos os dias no peito, e não foi fácil me libertar. A tristeza consome a ponto de anestesiar o corpo e não sentir mais nada. Mas, com Deus e uma rede de apoio firme, é possível superar e aprender a gerir o luto.

No aspeto espiritual, as feridas na alma são mais difíceis de compreender. É uma dor que não se explica, mas que corrói as entranhas, enfraquece o espírito e faz com que muitas mulheres sofram uma crise na fé, criando dúvidas em relação a Deus. Para mim, foi o contrário: foi nesse processo que aprofundei minha relação com Deus depois de muitos percalços e quedas, e hoje permaneço firme Nele.

Para expressar e me libertar da dor, eu oro e me deleito na presença de Deus. Tenho também uma rede de apoio que está sempre ali para mim quando preciso do meu "cantinho do Amor".

 

4. Referência Bíblica: O Consolo Prometido por Deus

A Bíblia reconhece a dor do luto e oferece consolo especial àqueles que choram. No contexto feminino, encontramos exemplos poderosos de mulheres enlutadas, como:

  • Noemi, que perdeu o marido e os filhos, mas encontrou em Rute, sua nora, um novo vínculo de esperança (Rute 1–4). Rute foi a rede de apoio que Noemi precisava para superar a perda e aprender a viver com aquele vazio.

O Salmo 34:18 afirma: “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os contritos de espírito.”

Apocalipse 21:4 nos dá esperança: “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor.”

📝 Quais passagem bíblica me traz consolo no luto?

O versículo abaixo é o meu favorito, porque nele podemos entender que estamos aqui de passagem, nada é nosso. Vivemos de favor num mundo onde a vida são dois dias: o Ontem e o Hoje. Até o momento, a pessoa tem controle, porque o depois e o amanhã a Deus pertencem.

Jó 1:21 diz: "E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor."

5. A Força da Reconstrução

Embora o luto seja uma jornada dolorosa, ele também é um caminho de reconstrução. A mulher, com sua capacidade de renascimento, pode encontrar novas formas de viver, amar e honrar quem partiu. Não há tempo certo para superar a dor, mas há um tempo para aprender a viver com ela, e transformar o amor em legado.

Minha vida tem sido de constantes desafios, mas aprendi a gerir o luto e hoje posso passar a experiência ajudando quem esteja a passar pela perda de um ente querido.

O meu conselho é que você mulher se permita viver as fases todas do luto e esteja rodeada de pessoas que sirvam de apoio e possam te levantar quando cair. Por fim e não mais importante não percas a Fé.

 

Com Amor e Carinho

Valquíria Gome
 

 https://www.instagram.com/valtavira?igsh=d250NG4zN296Ym81

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