Socialmente, a mulher tem sido condicionada ao papel de cuidadora. Ela cuida dos filhos, do parceiro, dos pais idosos, dos vizinhos, da comunidade, dos colegas. Em muitas famílias, é ela quem sustenta a estrutura emocional de todos. Mas o que acontece quando essa mulher perde alguém importante? Quando o luto bate à sua porta, quem cuida da cuidadora?
Para muitas mulheres, viver o luto é experimentar uma dor profunda e, ao mesmo tempo, um silêncio forçado. Elas seguem funcionando, sorrindo, alimentando, respondendo mensagens, lavando pratos. Mesmo quando o peito está em ruínas, o mundo parece esperar que ela seja forte.
Raramente ela é verdadeiramente acolhida. No luto, isso se torna ainda mais evidente: ela é consoladora quando precisa ser consolada, amparo quando precisa de colo. Sua dor, por vezes, é ignorada ou diminuída — afinal, ela "aguenta tudo". E esse é um fardo solitário.
A psicóloga e autora Clarissa Pinkola Estés nos lembra que "a mulher precisa de um tempo para sangrar, para mergulhar, para chorar suas perdas", sem precisar justificar ou esconder sua dor.
Direito ao Tempo e à Dor – Clarissa Pinkola Estés
Quando essa dor é abafada, surgem as consequências, e muitas mulheres passam por períodos de tristeza profunda, mas não se permitem parar. Afinal, sentem culpa até por sofrer.
Consequências do Luto Abafado na Mulher que Cuida
Nesse momento, é essencial lembrar: quem cuida também precisa ser cuidada. Luto não é fraqueza. Luto é amor que ficou sem lugar. E cada mulher tem o direito de vivê-lo com verdade, lágrimas, descanso e apoio.
Buscar apoio psicológico, espiritual ou comunitário não é sinal de fraqueza. É um gesto de coragem e respeito por si mesma. Participar de grupos de apoio, conversar com outras mulheres que viveram perdas, ou simplesmente se permitir dizer “não estou bem” já é um passo importante.
A Bíblia também nos convida ao cuidado mútuo:
“Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo.” (Gálatas 6:2)
“Chorai com os que choram.” (Romanos 12:15)
A verdadeira força não está em suportar tudo calada, mas em reconhecer que há momentos em que precisamos parar, deitar no colo de alguém, desabafar e nos reconstruir. A mulher que cuida de todos também precisa de mãos estendidas, ombros disponíveis, silêncio respeitoso e amor que sustente.
Cuidar de si no luto é um ato de resistência e dignidade.
Espaço para Reflexão
1. Em quais momentos da sua vida você se sentiu responsável por cuidar de todos à sua volta?
R: Acredito que nós mulheres acabamos sentindo essas responsabilidades em vários momentos, não só no luto, mas em cada situação a intensidade da dor é diferente.
Então posso dizer que ao perder a minha mãe, fiquei pensativa quanto ao facto de que estarmos lançados a vida a nossa própria sorte. Porque independente de ter pessoas ao nosso lado é assim que nos sentimos muitas vezes.
2. Como você se cuidou de si mesma durante o luto?
R: Infelizmente não cuidei porque só queria saber de sobreviver aquela dor de qualquer jeito, é muito perigoso isto porque ficamos suscetíveis a uma serie de pensamentos errados e tomamos decisões que nos arrependemos e que nos afasta de Deus.
3. É difícil para você pedir ajuda ou demonstrar vulnerabilidade? Porquê?
R: Sim, é incrivelmente difícil, porque a sociedade e a família nos ensinam desde cedo a "engolir o choro". Crescemos com a mensagem de que a vulnerabilidade é um defeito, e não uma parte natural da experiência humana, e foi o que muitas vezes fiz: internalizei e engoli esse choro. Lembro que familiares costumavam afirmar que, quando eu estava triste ou chorava, era apenas uma simulação ou tentativa de manipular quem estava por perto.
4. Quais formas de acolhimento ou apoio você gostaria de ter recebido naquele momento?
R: Naquele momento só queria alguém que estivesse do meu lado, quieto (a) sem dizer uma palavra, e me deixasse chorar em paz, Hoje só quero estar na presença de Deus e ser abraçada por ELE e agradecer pelas pessoas que estão a minha volta e servem como uma rede de apoio pra mim
5. Que memórias ou sentimentos você tem sentido necessidade de expressar?
R: Muitas vezes memórias divertidas dos meus pais, de algumas outras pessoas que perdi ao longo do curso da vida. O Sentimento é de gratidão pelos momentos passados juntos
6. Como a sua espiritualidade foi afetada ou fortalecida durante o luto?
R: Foi fortalecida de tal forma que estou e me sinto mais perto Dele, também aprendi que sem Deus NÂO DÀ mesmo.
7. Quem você reconhece como uma rede de apoio neste momento?
R: todas as pessoas que têm contribuído de uma forma direta ou indireta para o meu crescimento emocional e espiritual. Até porque têm que me aturar todos os dias.
Eclesiastes 4:9-10
"Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só, pois caindo, não haverá quem o levante."
8. Quais atitudes me ajudaram a se reconstruir com gentileza e dignidade?
R: A mais importante foi parar de me vitimizar e aceitar que os meus familiares não voltariam. A decisão de viver um dia de cada vez.
Focar no presente e no que podia construir no futuro, Servir a Deus, e passar o meu testemunho as outras pessoas que têm passado pelo mesmo.
Com Carinho
Valquíria De Oliveira Gomes